domingo, 18 de setembro de 2011

Nas órbitas de Ângelo Roncalli


“Hiato. Poeta inexato. Náufrago. Bárbaro. Sempre mudando”. É com essa linguagem polissêmica, conotativa, que Ângelo Roncalli se define. Mas não poderia ser diferente. Que melhor forma um poeta poderia encontrar para falar de si, senão fazendo uso da própria poesia? Para esse concretista, a autodefinição não pode fugir do cosmo, ou melhor, das órbitas. Como diz Luiz Hélio Alves, Roncalli busca o “totalismo” para descrever a sua poesia, e eu, com a permissão da palavra, digo que ele busca o “totalismo” para descrever a si próprio.
Juazeirense desde quando nasceu, no primeiro dia de abril de 1976, ele não é um mentiroso. É, antes, um fingidor, já que “finge tão completamente que chega a sentir que é dor, a dor que deveras sente”, como já dizia o poeta português, Fernando Pessoa. Ângelo podia ser qualquer Ângelo, mas não é. Ele é Roncalli, assim como o Papa João XXIII, que se chamava Ângelo Giuseppe Roncalli. Mas a sua avó, que foi quem lhe deu esse nome, decidiu abrir mão do Giuseppe. Só Ângelo Roncalli estava bom. Segundo o poeta, ela fez isso porque era muito católica. “Batizou-me com o nome de Papa e mudou minha vida”, diz. E deve ter mudado mesmo, afinal não é para qualquer um carregar o nome de um Papa.   
A relação de Roncalli com a poesia começou em casa, ao som de João Gilberto, dos Novos Baianos e de Caetano Veloso. Sem esquecer de Legião Urbana e dos Titãs. “A música foi minha porta de entrada para a poesia”, relembra o artista. As suas influências foram a poesia concreta e a poesia beatnik americana, poetas como Arthur Rimbaud entre outros.
Ao ser questionado sobre a crença na inspiração ou no trabalho árduo da palavra, como defendia João Cabral de Melo Neto, Roncalli é incisivo: “não há limites para a poesia. Escrever pode ser um processo conclusivo ou obsessivo. Depende de quem escreve”. A sua produção não fica engavetada, nasce de uma vez, “no viés”, como ele mesmo diz. Para Roncalli, é poesia tudo que ela escolha poetar. E a dele opta por poetar a convivência, o despudor e a metapoesia. Talvez por essa razão, Josemar Martins (Pinzoh), que também é poeta, classifique a literatura de Roncalli como “universal”. Não é à toa que o seu primeiro e único livro publicado - até o momento – chame-se “Orbitais – um ato de novas conquistas”. 
Seja por escolha, destino ou coincidência, Ângelo Roncalli, que também é Bacharel em Ciências Contábeis, dirige a empresa Orbitais Negócios Integrados, nome emprestado do livro, justamente pela cosmogonia, pelo totalismo que ele representa. Embora sendo um profissional liberal, a poesia ocupa um lugar singular em sua vida. “Escrevo porque é minha forma de expressar minhas observações sobre nosso cotidiano e sobre o próprio ato de escrever. Escrevo porque sou um existencialista romântico, que ainda acredita num mundo civilizado”, explica Roncalli, afirmando que a arte poética é o próprio “brinde da existência”.
Na criação do poeta não há segredos. “É sempre um processo perceptivo. Um mote poético. Captado através do cotidiano. Depois paro e escrevo o poema”, conta. Em meio a tantas tecnologias como a poesia é produzida? Ainda com a caneta e o papel ou com os meios eletrônicos? Roncalli não poderia dar melhor resposta: “Caneta e Papel. Computador e Word. Hidrocor e papel. Além de paredes, guardanapos, outdoor, camisa. Meu sonho é reconstruir o cais com poemas referenciais”. Quem duvida disso? 
Edilane Ferreira (texto).
Foto - Divulgação
Graduanda do 6° Período de Jornalismo em Multimeios da UNEB

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