Tristes “Angarys”, tristes “Angarys”, como já dizia o poeta Euvaldo Macedo, não te encontramos mais por aqui. O rio São Francisco não é mais banhado pelas águas “ensaboadas” das roupas das lavadeiras. Cadê as “mulheres sofridas de peles curtidas, de sonhos clementes” das canções de Edésio Santos? Aah, lavadeiras do Angari... As tuas mágoas não são mais lavadas por essas águas. Onde elas vertem agora? Onde está o vaivém dos teus braços, o balanço das roupas que te sustentam?
Enquanto uma mulher carrega bacias cobertas de roupas na cabeça, um poeta a contempla. Pura poesia! As cordas do violão de Edésio não seguem mais o compasso das tuas mãos entregues a panos e águas. Ele se foi... E vocês, onde estão, mulatas cachopas? Cansaram de bater roupas? Ou seguiram o poeta? Não vejo mais o brilho e a brancura das tuas almas ingênuas, puras e simples como Edésio dizia.
Recorro ao Chronos para tentar encontrar as mulheres que outrora estiveram presentes nas poesias e canções juazeirenses. Aquelas que refletiam a alma da gente que pisa os solos ribeirinhos. É preciso recorrer ao Senhor do Tempo para encontrá-las, pois entre as casas coloridas, conglomeradas de hoje, vejo apenas canoas “beirandeiras” solitárias. Onde estão vocês, mulheres de pescadores, que só encontro agora nas canções de Edésio? O Angari não é mais o mesmo. Falta o gingado dos teus corpos com trouxas na cabeça e sonhos nas mãos. Nos varais não vemos mais o “amor por tantos sonhos”. Não sabemos onde eles foram pendurados. O rio segue o seu percurso, a ponte está no mesmo lugar, os pescadores pescam à noite, talvez agora sem medo do Nego D`água. Só as lavadeiras não estão.
Hoje, vejo meninos correndo, homens conversando, pessoas passando, mulheres indo e vindo, não mais com roupas nas cabeças. Agora elas estão em peixarias, nos balcões de bares e mercadinhos. Não são as mesmas das canções de Edésio. Elas mudaram, as músicas mudaram, a cidade mudou. O Angari dos poetas não existe mais. Os vapores se foram, ninguém os espera. Alguém ainda faz versos ao arrebol, ou isso ficou entre Edésio e João Gilberto, junto ao cais? Se ainda existem esses raros, meus olhos saudosistas não o veem. Edésio olhou Juazeiro com os olhos de poeta que o comprazia. Ele viu a beleza, a poesia, a ternura, a ponte imensa sobre o rio, as velas brancas canoeiros e barqueiros e, junto a tudo isso, as lavadeiras, as lavadeiras do Angari.
Onde encontrá-las? Vou ao Angari, ele não é mais o mesmo. Não as encontro, não as vejo conforme a lírica de Edésio. E, imersa em recordações poéticas, desconheço o lugar em que piso. Sem eira nem beira, vou beirando às margens do rio. E de muito longe me vem uma música que diz, justamente, o que eu gostaria de ter dito. Não sei quem a compôs, mas, mesmo assim, não consigo deixar de lembrá-la. Vou seguindo e cantando a canção, que emerge do mais íntimo das minhas dores: As lavadeiras do Angari / Já não se encontram mais por aqui / As lavadeiras do Angari / Já não se encontram mais por aqui / As lavadeiras do Angari / Já não se encontram mais por aqui / Amigo tudo isso acabou / E o tom já não é o mesmo ao arrebol / Ficou somente a história / Daquele tempo bom...
Veja: Canções que retratam o Angari
Edilane Ferreira da Silva
Graduanda do 6º período do Curso de Jornalismo em Multimeios da UNEB
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