sábado, 8 de outubro de 2011

A Velha Carolina

As semanas passavam lentamente naquele lugar que, ao invés de ser sua moradia, aprisionava sua liberdade de moço. Queria ir à cidade, precisava encontrar a jovem que lhe roubasse todo desejo e desse significado a sua existência. Os dias, cheios de luz e de mística da pequena Fazenda Carolina enchiam os olhos do Veinho, mas não a alma... Todo encanto se fora, transformando-se em lágrimas até se esgotar com o vazio de cada noite dos sete dias da semana e de quanto tempo tivesse.

Queria ir à cidade, precisava encontrar uma jovem que aliviasse todo desejo de ser quem era em sua plenitude de homem, que roubasse as horas e o sossego, que arrancasse de dentro o tempo que não resolveu passar.

Queria ir à cidade, meu companheiro, amigo de infância! Eu lembro a rua principal de barro seco, por onde as carroças passavam pra chegar à feira e das casinhas da vila, da criança que acenou na porta, será que já cresceu? Eram duas, mas percebeu somente o nome de uma, Carolina.  Não vemos moças por estas terras, somente a menina que vivia a existir nos olhos do bicho, no qual corria o campo, tocava o gado e os dias.
Gostava de enxugar o rosto molhado de suor e água que escorria no canto do olho de quem era sua realidade, trabalho e ilusão. Veinho inclinou-se, com  ternura sobre o dorso do animal, seu companheiro de labuta, e disse: vou viajar.

Surgira do nada, de onde viria tal poeira? Era o único instante em que podia enxergar Carolina, mas, era, de fato, ela? Não sabia, não sabia se tinha crescido, não sabia se era ilusão, mas via, e ele ainda estava a contemplar a menina nos olhos do bicho até o branco se tornar cinza e escuridão. Agarrado no pescoço do animal partiu depressa, como quem foge do vento, do tempo e de si mesmo. Num galope retardado pela travessia do riacho retira um broto da primeira floração para levar ao seu destino. Agora, não tinha mais tempo, precisava correr, o vento logo acalmaria de novo e a mesma vida logo se clarearia diante dos seus olhos quando avistou a estrada de barro e a mesma casinha na qual as meninas brincavam na porta.

Queria ir à cidade e encontrar as mesmas meninas. Será que Carolina cresceu? Precisava encontrar a jovem que aliviasse todo o seu desejo, que arrancasse de dentro o tempo que não resolveu passar. Uma senhora aparece com uma jovem na porta, com as mesmas feições de juventude guardadas na memória de Veinho que entregou a flor do Mandacaru e disse: Carolina? E a menina pergunta: Essa flor é pra vozinha? Vou levar lá dentro. Veinho compreendeu, então, que o tempo lhe passara despercebido diante dos seus olhos empoeirados.

Precisava voltar pra Fazenda Carolina onde a menina esperava por ele, jovem nos olhos do bicho. Como de costume, antes de montar, enxugou o rosto molhado de suor e água que escorreu no canto do olho. O dia começa a clarear. E a velha irmã gêmea Carolina, aparece na porta de casa para acenar um novo adeus.

Michael Ribeiro
Graduando do 6º período do Curso de Jornalismo em Multimeios da UNEB

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